Test-drive: potência extra do novo Renault Sandero é melhor no papel do que na prática!
Com até 11 cv a mais, modelo paranaense enfrentou avaliação de mais de 400 km
Mais potente, equipado e praticamente sem alterações no preço. O resumo da linha 2013 do Renault Logan e Sandero é tentador. Porém, na prática, as mudanças implementadas na dupla — responsável por 57% das vendas da marca no Brasil — são discretas perante a moderna concorrência que bate à porta da montadora francesa. Entre as poucas novidades está o motor 1.6 8V mais potente (são 5 cv extras com gasolina e 11 cv com etanol) e, segundo a marca, mais econômico, e o relançamento da versão GT Line.
Apressada, a Renault divulgou os preços da linha 2013 considerando o IPI reduzido, que irá acabar nesta sexta-feira (31). Por isso, para aproveitar os valores abaixo, o consumidor precisará correr às concessionárias. Veja a tabela completa:
Sandero
1.0 16V Authentique: R$ 27.030
1.0 16V Expression: R$ 32.610
1.6 8V Expression: R$ 35.930
1.6 8V GT Line: R$ 38.470
1.6 8V Privilège: R$ 38.470
1.6 16V Privilège automático: R$ 41.750
1.6 8V Stepway: R$ 40.660
1.6 16V Stepway Rip Curl: R$ 41.150
1.6 16V Stepway automático: R$ 44.870
Logan
1.0 16V Authentique: R$ 26.450
1.0 16V Expression: R$ 31.770
1.6 8V Expression: R$ 35.480
1.6 16V Expression automático: R$ 39.230
O reforço veio de uma série de modificações no propulsor que formam uma lista para mecânico algum botar defeito: novas bielas fraturadas, pistão mais leve e com saias grafitadas, nova junta de cabeçote e taxa de compressão aumentada. Já consolidadas na indústria, essas mudanças apenas deixam o motor 1.6 8V da Renault mais próximo da concorrência.
Com 92 cv e 95 cv (com gasolina e etanol, respectivamente), o propulsor, chamado de K7M, ficava aquém até do veterano AP 1.6 (rebatizado de EA 827) que equipa a decana Volkswagen Parati. Com as modificações, o motor agora gera 98 cv e 106 cv, valor mais atraente na ficha técnica — ainda que continue inferior a outros motores de mesma idade, como o 1.6 RoCam que equipa a Ford Courier.
A solução para superar boa parte da concorrência era fácil e caseira: bastava à Renault adotar em toda a linha Sandero e Logan o 1.6 16V, restrito atualmente apenas às versões automáticas e à série limitada Rip Curl. Porém, a fábrica prefere economizar cartuchos e aguardar a chegada de Chevrolet Onix, Toyota Etios e Hyundai HB20 para saber se irá precisar ser mais ousada nas atualizações e manter seu objetivo, que é deixar a dupla entre os dez carros mais vendidos do Brasil.
Sem grandes novidades, Renault relança série GT Line para dar fôlego ao Sandero (Crédito: Divulgação)
De romenos para brasileiros
No entanto, justiça seja feita: se a ficha técnica do Sandero e Logan não impressiona tanto em relação à concorrência, seu desempenho não deixa a desejar. Leve, a dupla faz valer de seu baixo peso (1.055 kg no Sandero e 1.080 no Logan) para aproveitar os 15,5 kgfm de torque (14,5 kgfm com gasolina) do motor 1.6 8V. E essa virtude ajuda a explicar o sucesso dos modelos no País.
Apesar de terem sidos desenvolvidos na Romênia, Sandero e Logan se adaptaram rápido ao Brasil, onde compra-se potência, mas usa-se torque. Afinal, no trânsito urbano, em que a velocidade média dificilmente supera os 40 km/h, é mais importante a força para arrancar de semáforos e subir ladeiras do que ultrapassar os 100 km/h com facilidade. Mas como muita gente não pode se dar ao luxo de ter um automóvel em casa apenas para viajar, R7 Carros aproveitou que o lançamento da linha 2013 do Sandero foi em Curitiba (PR) para fazer uma avaliação mais profunda do carro.
Nos mais de 400 km que separam a capital paraneanse de São Paulo há estradas planas, sinuosas, congestionadas e poucos postos de gasolina. Receita perfeita para avaliar as mudanças do Sandero 1.6 8V Privilège, modelo escolhido para enfrentar a maratona.
Os desafios começaram logo na saída de Curitiba, congestionada devido ao intenso tráfego de caminhões com destino ao porto de Paranaguá (PR). No meio de tantos veículos e sob um sol de 27°C, o Sandero mostrou disposição razoável no anda-e-para, levando em conta que transportava três jornalistas levemente acima do peso e suas bagagens. Neste momento, o câmbio mostrou que continua com engates ruins e com manopla que vibra no ritmo do motor. A vantagem é que o ar-condicionado também repetiu o bom desempenho encontrado nas versões anteriores do modelo.
Atualizado, motor 1.6 8V se aproxima da concorrência em desempenho, mas não em consumo (Crédito: Divulgação)
Com trânsito livre e asfalto de qualidade, o Sandero mostrou fôlego para realizar ultrapassagens a mais de 100 km/h, ainda que necessitasse de uma redução de quinta para quarta marcha. Esta talvez seja uma das raras situações em que o ganho de potência da linha 2013 seja notada, já que a força extra surge apenas a elevados 5.250 rpm. O ronco do escapamento agrada, mas, diante da sinuosa serra próxima a Registro (SP), a suspensão do alto hatch (1,53 m) não transmite muita segurança para curvas mais arrojadas.
A imprudência dos motoristas de caminhões fez com que o freio do Sandero também fosse testado. Felizmente não houve grandes sustos e o hatch cumpriu bem a tarefa sem necessitar do ABS — que segue sendo opcional, oferecido com o air bag duplo por R$ 1.900 na versão Expression e R$ 2.300 na Privilège. Ar-condicionado, direção hidráulica e travas e vidros dianteiros elétricos são de série em ambas as versões (e opcionais na Authentique).
As diversas retomadas para ultrapassagens e o uso intenso do ar-condicionado cobraram seu preço nos reabastecimentos durante a viagem, que não pode ser cumprida com um só tanque de etanol. Porém, ainda que as condições não fossem favoráveis, o elevado consumo de 8,1 km/l na estrada mostra que as alterações do motor 1.6 não foram suficientes para diminuir a sede do propulsor. Em regime urbano, o valor caiu para 7 km/l.
O ruído interno mostrou-se tolerável, assim como o acabamento, que abusa do plástico, mas tem com poucas rebarbas. A atualização no painel do Sandero deixou o hatch com um ar "menos popular", mas o rádio com um confuso comando giratório (que não serve nem para controlar o volume, nem para a mudar a frequência das estações) poderia ser mais prático.
Após algumas centenas de quilômetros, o Sandero com o novo motor 1.6 se saiu bem no teste. Menos por sua discreta atualização, mais por méritos que ele já havia alcançado anteriormente. Por enquanto, as falhas que devem ser corrigidas são eclipsadas pelos méritos do carro, mas essa situação pode mudar em breve com a chegada de hatches mais modernos ao mercado.
*O jornalista viajou a convite da Renault do Brasil