Engenharia da emoção!
A goleada da tecnologia ao aumentar a competitividade e multiplicar a possibilidade de ultrapassagens nas corridas
As ultrapassagens no automobilismo equivalem ao gol no futebol. Quando o momento se aproxima, a torcida levanta, e um frio se instala na barriga, do suspense do vai ou racha até a comemoração pelo fato consumado. Não há dúvida de que esse é o ponto alto do espetáculo. Foi por isso que a Fórmula 1 desenvolveu mecanismos para facilitar as ultrapassagens e transformar em goleada o que poderia ser um 0 x 0 sem graça.
A primeira carta na manga foi o Kers, sistema que capta a energia cinética e a transforma em energia elétrica, descarregando uma dose extra de 80 cv de potência, que pode ser utilizada em 6,6 segundos por volta. A segunda e mais recente invenção foi a asa traseira móvel. Sua função original é gerar pressão aerodinâmica, empurrando o carro para baixo, a fim de ganhar aderência e estabilidade nas curvas. Ao mesmo tempo, porém, a asa reduz a velocidade nas retas, como se fosse um paraquedas sendo puxado pelo carro. Mais asa é igual a mais aderência, que é igual a menos velocidade final. Por isso, quando acionada a asa móvel, seu ângulo é alterado para reduzir a resistência do ar. Assim, o carro ganha aproximadamente 15 km/h no fim de uma longa reta. O efeito da asa móvel é mais eficiente que o Kers para as ultrapassagens porque só pode ser utilizado pelo carro que está a menos de 1 segundo atrás de seu concorrente. Ou seja, o piloto que vai à frente não pode usar o recurso da asa móvel para se defender (o Kers pode ser acionado a qualquer momento, seja para atacar, seja para defender).
Pneus com desgaste propositalmente excessivo para que a falta de aderência gere desequilíbrio nos carros, deixando-os mais vulneráveis aos ataques, completam o pacote emoção dose extra. Isso funcionou muito bem, principalmente quando novidade para todos, mas com o passar do tempo equipes e pilotos aprenderam a minimizar os efeitos do desgaste dos pneus com acertos para os carros e alterações de estratégia para a corrida.
Seguindo na metáfora, as novidades podem ser comparados a supostas inovações para o futebol. Uma chuteira especial para o chute ser mais forte ou uma bola feita de material desenvolvido para atingir velocidades mais altas. Mas nem a chuteira e tampouco a bola transformarão um perna de pau num artilheiro. Por isso, os que questionam os novos sistemas da F-1, afirmando que estão tornando as ultrapassagens artificiais e tirando a dificuldade nas disputas entre os pilotos, estão enganados.
Antigamente, cansamos de assistir a corridas em circuitos de difícil ultrapassagem, em que bastava largar na frente e não cometer erros para vencer a prova. De certo modo, algo fácil de fazer. Isso não existe mais. Mesmo em circuitos complicados, como os dos GPs da Espanha e Hungria, as disputas acontecem durante toda a corrida. Por isso, ouvindo a opinião da maioria dos pilotos, as corridas estão mais difíceis que antes, pois é quase impossível se sair bem se não for o mais veloz. Um jogador mais capacitado estará sempre bem posicionado para chutar a bola no melhor ângulo, assim como o goleiro “muralha” saberá como se defender dos melhores atacantes. Na F-1, uma vez assimilados os truques pelos pilotos, o desafio dos cartolas agora é tirar novos coelhos da própria cartola.
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